O samba e a resistência negra: A importância do gênero na luta por igualdade

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Imagine um batuque ecoando pelas vielas do Rio de Janeiro no início do século XX. Não era só música – era resistência, era manifesto, era vida pulsando no compasso do tamborim. O samba, muito antes de ganhar os holofotes dos desfiles de Carnaval e virar trilha sonora nacional, foi refúgio, fala e arma dos negros no Brasil em sua luta contra a opressão. E se você acha que é “só um ritmo alegre”, espera até conhecer como esse gênero sacudiu estruturas e conquistou seu lugar à força (e ao som do surdo e do cavaquinho, claro).

A origem do samba está profundamente enraizada na herança africana dos povos escravizados. Chegando ao Brasil, esses africanos trouxeram seus cantos, batuques e religiões, que se misturaram com as influências indígenas e europeias, dando origem ao que hoje chamamos de samba. Mas, olha só: no começo, até tocar samba era ato de coragem. Durante o começo do século XX, as rodas de samba eram perseguidas pela polícia – afinal, qualquer reunião de negros era vista com desconfiança, e instrumentos como o pandeiro podiam levar seu dono direto para a delegacia. O samba era música de “malandro”, diziam. Mal sabiam eles que os “malandros” estavam mudando o Brasil.

Entre becos e festas improvisadas surgiu a casa de Tia Ciata, um dos grandes pontos de resistência cultural. Ali, músicos como Donga e Pixinguinha tocavam e cantavam, criando clássicos como “Pelo Telefone”, considerado o primeiro samba gravado da história, em 1917. Não foi coincidência: o samba nascia, resistia e se multiplicava nos terreiros, nas ruas, nos corações que ansiavam por liberdade e igualdade.

A história do samba está diretamente ligada à luta por direitos da população negra. Num país que aboliu a escravidão em 1888, mas manteve o racismo como regra social, o samba foi espaço de afirmação identitária. Nos versos das músicas, estava o cotidiano do povo negro, suas dores, alegrias, esperanças e revoltas. Era a voz de quem não era ouvido. Nos desfiles das escolas de samba, criadas por operários, lavadeiras e ex-escravizados, a cultura africana era celebrada diante de toda a cidade, resistindo ao silenciamento imposto pela elite.

Ao longo das décadas, o samba foi se transformando, mas sem perder seu papel de resistência. Na ditadura militar, nos anos 1960 e 1970, nomes como Cartola, Clementina de Jesus e Martinho da Vila usaram o samba como forma de protesto e denúncia social. O samba-enredo, por exemplo, virou palco para resgatar histórias de heróis negros e criticar as injustiças sofridas pelo povo marginalizado. E, sejamos honestos: não tem ditadura que aguente o poder de uma boa batucada.

E não para por aí! O samba abriu caminhos para outros gêneros como o pagode, o samba-rock e até mesmo o funk, mostrando que a criatividade negra brasileira não tem limites. E mais: influenciou movimentos como o Black Rio, que nos anos 1970 celebrou o orgulho negro em plena zona sul carioca, conectando samba, soul e música internacional.

Dados mostram que o samba é um dos gêneros mais ouvidos e exportados do Brasil. Segundo a ABMI (Associação Brasileira da Música Independente), em 2023 o samba ainda figurava entre os cinco ritmos nacionais mais populares nas plataformas de streaming. Isso não é pouca coisa! Além disso, em 2005, o samba de roda foi reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, reforçando seu papel não só na cultura brasileira, mas no mundo todo.

Hoje, em 2025, o samba segue sendo espaço de resistência e celebração da negritude. Jovens artistas como Teresa Cristina, Xande de Pilares e Leci Brandão continuam usando o samba para falar sobre racismo, direitos humanos e orgulho negro. As rodas de samba se multiplicam pelo Brasil, das favelas aos grandes centros, mostrando que a luta e a festa seguem juntas, lado a lado, num compasso só nosso. Porque no Brasil, onde há samba, há vida – e onde há vida, há resistência.

Depois de tudo isso, da próxima vez que você ouvir um samba, lembre-se: por trás de cada batida tem uma história de coragem, luta e muita, mas muita vontade de mudar o mundo. E se bater vontade de sambar, não lute contra. Resista… dançando!

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