Quando se fala em samba, muitos logo pensam na alegria contagiante do Carnaval, nos desfiles de escolas, nos batuques animados dos blocos de rua e nos refrães que grudam na mente. Mas a verdade é que o samba vai muito além da festa: ele é, há décadas, uma poderosa ferramenta de resistência, crítica social e reivindicação de direitos. O chamado samba de protesto é o grito daqueles que usaram a música para denunciar injustiças e defender causas que marcaram a história do Brasil.
O samba de protesto ganhou força especialmente nos anos 1960 e 1970, quando o Brasil vivia sob o regime militar. Com a censura apertando e as liberdades civis sendo cerceadas, os compositores encontraram no samba uma forma criativa de desafiar o sistema. Eles usaram letras metafóricas, ironias e duplos sentidos para escapar do olhar atento da censura, mas ainda assim deixar clara a sua mensagem para quem quisesse (e soubesse) escutar.
Um dos nomes mais icônicos desse movimento é Geraldo Vandré. Seu clássico “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores” tornou-se um hino da resistência e foi proibido pela ditadura. A canção, conhecida também como “Caminhando”, usava versos simples para conclamar o povo à luta: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Não por acaso, foi entoada em diversas manifestações e até hoje é lembrada como símbolo de coragem contra a opressão.
Outro grande mestre do samba de protesto é Chico Buarque. Com sua genialidade, ele compôs músicas como “Apesar de Você”, um verdadeiro tapa de luva na censura. A letra fala de um “você” autoritário, representando claramente o regime militar, e Chico chegou a ser chamado para dar explicações. Além dele, nomes como Paulinho da Viola, João Bosco, Aldir Blanc e Martinho da Vila também deixaram sua marca com canções que abordam temas como racismo, desigualdade social e a luta por direitos.
Mas o protesto não ficou restrito ao período de chumbo. O samba continuou sendo trilha sonora de lutas por moradia, educação e dignidade. Beth Carvalho, conhecida como a “madrinha do samba”, sempre foi uma voz ativa em defesa das comunidades e das escolas de samba. Seu repertório inclui músicas como “As Rosas Não Falam” e “Vou Festejar”, que, embora não sejam protestos explícitos, carregam mensagens de esperança e superação.
O samba de protesto também toca nas feridas históricas do Brasil, como o racismo estrutural e a exclusão social. Cartola, com sua poesia sensível, denunciava as dificuldades dos negros e pobres no Rio de Janeiro. E não podemos esquecer dos sambistas do morro, que fizeram do samba seu megafone para o mundo ouvir as dores e os sonhos das favelas.
Nos anos mais recentes, novos sambistas e grupos seguem essa tradição. O grupo Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz continuam usando a música para questionar e emocionar, muitas vezes com um bom humor afiado que só o samba tem. E vale lembrar: a luta pela igualdade e pela justiça ainda está na pauta – basta prestar atenção nas letras e nos batuques das rodas de samba pelo Brasil afora.
O samba de protesto não é só música, é também memória, resistência e identidade. Ele nos lembra que, mesmo nas adversidades, é possível levantar a voz, unir forças e transformar o sofrimento em poesia e, por que não, em esperança. Afinal, como diz a velha guarda, “quem não luta tá morto, quem não samba tá parado”.
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